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  • Dora Ghelman

Calor Humano




Hoje é dia de show.

Comprei meu ingresso há mais de dois meses.

Dois meses de ansiedade e empolgação.

Finalmente chegou o dia.

Botei uma roupa fresca para poder pular e suar a vontade.

Fui.

Cheguei no Circo Voador com o coração palpitando.

Passar pelos Arcos da Lapa é como atravessar para uma realidade paralela.

Aquele mar de gente.

Multidão dançante.

Corpos vibrando.

Comprei uma cerveja gelada para contrastar o calor humano dentro do Circo.

Desceu gelando até a última gota de suor do meu corpo.

Até que começou o primeiro acorde.

E eles entraram.

Gil e Caetano.

Os dois.

Ali.

Na minha frente.

É impressionante o poder que dois homens podem exercer sobre uma multidão.

Até os ratos e baratas se agitaram.

Foram duas horas e meia de puro frenesi.

Pura poesia.

Duas horas e meia de energia vibrando no mais alto nível.

Os corpos dançando sobre uma mesma batida.

Ritmados.

As vozes cantavam juntas as mesmas músicas.

Em plenos pulmões.

Até o velho surdo na Barra da Tijuca ouviu a cantoria.

Quando tocaram a última música era como se o tempo não tivesse passado.

O povo pedia “bis bis bis” misturado com “mais um mais um mais um”.

Eles cantaram.

Mais uma.

Com a mesma energia da primeira.

Voltei para casa elétrica.

Não conseguia parar de sorrir.

Meu corpo não parava de se mexer.

Sozinho.

Era como ele estivesse enfeitiçado.

Ele se movia pela energia contagiante que ainda ressoava em mim.

Passei a noite em claro, repassando o show todinho na minha cabeça.

É impressionante como certas pessoas tem poder.

Poder de hipnotizar.

De apaixonar.

De se apaixonar de novo.

De fazer tudo remexer.

O corpo.

A alma.

Os pensamentos.

Vi o sol nascer pela janela.

Enquanto os tons alaranjados começavam a surgir no céu, pensei que era hora de começar a focar no que amo.

Assim como eles.

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