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  • Dora Ghelman

A Minha Nárnia



Acordo com os pássaros cantando pela janela.

Já amanheceu faz tempo, mas fiquei de preguicinha na cama.

Fui até a sacada respirar um pouco de ar fresco e me espreguiçar.

O dia está lindo.

Céu azul sem nenhuma nuvem.

Mas não faz calor.

Uma brisa fresca passa por entre as folhas das árvores.

Olho pro horizonte e agradeço.

Desço para tomar um café preto quentinho.

Pego minha xícara e vou até o gramado.

Está com cheiro de terra recém molhada evaporando com o sol.

Sento debaixo da minha árvore favorita.

Fico olhando o campo e pensando em como tenho sorte de poder acordar aqui.

Olho para cima e vejo as folhas altas balançando.

Dançando com o vento.

Algumas se desprendem e caem do meu lado.

Pego uma e fico brincando com a mão.

Termino meu café e resolvo que vou caminhar na beira da praia.

O dia está lindo demais para não olhar o mar.

Coloco meu biquini, pego meu livro e meus óculos escuros, e vou.

Caminho por entre as árvores calmamente.

Não tenho pressa.

Os pássaros parecem que acompanham meus passos.

O cheiro de grama molhada vai sendo substituído pelo cheiro de maresia.

Chego na beira da escada e fico sem ar.

Como é bonito o mar.

Um infinito azul turquesa.

Areia branca que parece quase farinha.

Vazia.

Só para mim.

De novo penso em como sou sortuda e agradeço.

Começo a descer as escadas de pedra com cuidado.

Havia tropeçado na semana anterior, então passei a dar atenção extra aos degraus.

Depois de descer o que parecia ser uma infinidade de degraus, pisei na areia.

Meu pé se afundou naquela imensidão branca.

Fiquei um tempo sentindo a areia passar pelos meus dedos do pé.

Afundando cada vez mais.

A sensação de se afundar na areia é sem igual.

Fui caminhando lentamente até a beira.

O mar estava com aquela temperatura que te convida a mergulhar.

Mas não entrei.

Fiquei brincando com a espuma das ondas.

Andando para trás conforme as ondas iam vindo.

Andando para frente quando elas iam voltando.

Caminhei por algum tempo até que cheguei no canto que mais gosto da praia.

Fica onde o espaço de areia é mais curtinho então o mar fica obrigatoriamente fazendo carinho no nosso pé.

Atrás tem uma parede de pedras altas.

E do lado tem um monte de pedras caídas que formam quase que um trono da Pequena Sereia.

Quando era pequena amava escalar e me sentar no topo.

Ficava horas cantando “Parte do seu mundo” olhando para o horizonte e o mar infinito, imaginando se algum dia encontraria meu príncipe encantado.

Se ele viria me salvar.

Não sei do quê.

Mas ele me salvaria do que fosse.

Sentei no topo das pedras e fiquei observando o mar.

Mas dessa vez com um toque de realidade.

Agradeci.

Não pedi mais pelo príncipe encantado.

Agradeci por ter aprendido com a vida que, se queremos nossos finais felizes, precisamos ir em busca deles.

Com força, coragem e perseverança.

Com autoconhecimento.

Autoamor.

Cuidado.

Com fé e esperança, que esse dia vai chegar.

Até que ele chega.

E só nos resta agradecer sempre que tivermos a oportunidade.

O meu conto de fadas foi construído com minhas próprias mãos.

Com a minha força de vontade.

E o meu príncipe não precisou vir me salvar do que quer que fosse.

Quando ele apareceu, eu estava pronta para recebê-lo: estava inteira.

E, como disse, hoje eu só agradeço.

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